terça-feira, 22 de maio de 2012

Injustiçada


Em uma velha cidade vivia uma menininha chamada Luna, sempre fora conhecida como “impostora”, pelo fato de sempre sair correndo pelos arredores inventando asneiras sobre a vizinhança. De algum modo aquilo a satisfazia.
Os pais sempre acharam que Luna vivia assim pela batida que tomou na cabeça quando recém-nascida, mas na maioria das vezes ignoravam a hipótese e gritavam à menina: “Mentir é feio!”
Só que a gozação de Luna se liquidava quando todas as noites, ao apagar as luzes, e deitar-se sobre a cama, um nevoeiro atingia o quarto, as cortinas começavam a voar contra o bruto vento, a atmosfera esfriava e, a menina sentia-se gélida, seus pelinhos enrijeciam. Toda noite era sempre a mesma agonia, a menininha não conseguia  dormir, contava para seus pais sobre o ocorrido, mas estes apenas achavam que ela tinha pequenas alucinações, ou que era apenas mais uma farsa.
Até que certa noite a menina convidou a mãe para dormir junto à ela para provar que algo ali estava errado. A mãe desdenhando aceitou a condição. No dia seguinte, ao acordar conversou com o marido serenamente, indagava possíveis hipóteses que a menina demonstrava delírios, e que a tal batida quando criança acabara fazendo efeito, pois percebia que a menina estava temida demais para uma mera mentira.
Semanas se passaram, e então de fato a menina foi levada para o hospício. O desespero mútuo dos pais foi grande demais para deixar  a menina ali no manicômio, mas para a possível ascensão da garotinha, tinha de fazê-lo.
Passaram-se os anos e o casal nunca mais voltou, ao completar seus dezoito anos, a menina foi finalmente liberada. A angústia dominou-a quando ouviu um dos psicólogos dizer:
- Esta só nos causou despesa! Quem assinou sua internação só queria livrar-se de um encosto, só pode..., uma moça tão lúcida assim!
A menina então foi para casa, hesitando, oscilando de saudade para medo, de medo para ira, esteve certa o tempo todo, e nunca teve tanta certeza do que falara.
Chegando ao quarto, a menina arquejou, sua mente latejava, e seus olhos foram inundados de lágrimas, não teve olfato ávido para sentir o cheiro de carniça que ali prevalecia. Viu dois corpos ao chão, quando subitamente sentiu uma massa fria sobre suas costas, e ao virar-se, pôde ver mãos brancas e unhas pontudas.
- Mentiras! Sua vida toda foi uma mentira! Isso custou as vidas de seus pais. Agora acho que você aprendeu a lição, mentir é feio!
Luna virou-se e então viu aquilo que a assombrara na infância, uma bruxa horrenda, que zombava da situação.
Luna arfava ao perceber que tudo não passara de um pesadelo. Um fantasma apareceu, estava tão aliviada que mal hesitou. Apenas disse:
-Luna, mentir é feio!
A garotinha fora enganada por sua própria imaginação, chocada, a menina sentiu-se um encosto, como o médico citou a todos na cidade em que morava, a vizinhança e aos seus pais, então a menina apunhalou uma faca em seu coração. Assim sentia-se perdoada, com tudo o que de mal fez.